terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A um ausente

A Um Ausentede
(Carlos Drummond de Andrade)
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral,
a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocaçãoaté o limite das folhas caídas na hora de cair
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação,
o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso,
voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da naturezanem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.

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